Manuel Eduardo é um jovem estudante universitário que veste limpo e bem. Para vestir boa roupa, diz, não é necessário dar muitas voltas. Em Luanda e nas restantes províncias, refere, há locais de venda de roupas para todos os gostos e bolsos.
Exemplificou que, em Luanda, na praça do Tunga Ngó, na zona do Rangel, há locais em que é vendida roupa usada (de fardo) de boa qualidade e que passa no “barulho”.
“Além das senhoras que vendem fardo, há boutiques improvisadas em qualquer esquina da cidade e há muitas casas de modas que vendem marca fardex nas zonas urbanas e suburbanas”, diz.
António Mariano, sem complexos, garante que todas as suas roupas são compradas em senhoras que vendem fardos ou nesses miúdos que vendem peças de 500 kwanzas.
“Há pessoas que se admiram com as minhas camisas e calças. Quando lhes digo que comprei no fardo não acreditam”, disse António Mariano.
Quem também afirma, sem complexos, que veste marca fardex, é a jovem Francisca Catarina, funcionária pública. Ela diz que cada um deve adquirir as suas roupas onde quiser e conforme as suas posses. “Não tenho problema, nem vergonha de ir comprar roupas nos fardos, tanto para mim, como para o meu marido e para os meus filhos”, garante.
Qualidade e baixo preço
As roupas de fardo são de qualidade e preço baixo. Duram muito tempo e são iguais às roupas de marca que se vendem nas grandes boutiques ou casas de modas.
O preço de umas calças pode ir dos 500 kwanzas aos 1.500. Uma camisa pode ir dos 250 aos 500 kwanzas. As peças de fardo dificilmente ultrapassam os três mil kwanzas.
Um blazer, um bom vestido, uma boa saia, podem custar entre dois a três mil kwanzas.
Sapatos e sapatilhas
No fardo também se encontram sapatos e sapatilhas. Os preços são baixos. “São de marca e qualidade”, sublinhou o jovem Manuel Mariano, que acrescentou: “no fardo compro um par de sapatilhas por 3.500 kwanzas, ao passo que numa sapataria por um par de sapatilhas pago 15 mil kwanzas ou mais do que isso”. Segundo ele “quando trajo roupa de fardo sinto-me sofisticado como qualquer jovem que está na moda”.
Jovens complexadas
Há muitas jovens que têm complexos de adquirir roupas usadas à vista de outras pessoas. Elas preferem ir às casas das vendedoras e lá, com paciência, escolhem as suas peças.
“São muitas as meninas que compram a roupa em minha casa. Dizem que é feio comprar a roupa na praça”, disse uma vendedora de fardo, numa das praças de Luanda.
De acordo com a vendedora, as pessoas que se dirigem a sua casa para comprar roupa de fardo escolhem, com paciência, as melhores peças e não se importam de pagar um pouco mais. Em alguns casos, a própria vendedora liga às clientes para escolherem em primeira-mão quando abre um fardo.
Dulce Carlos prefere comprar na casa da vendedora do que ir ao mercado. Porque, afirma, no mercado há muita confusão e acabamos por não comprar o que queremos. “Quem também gosta de roupa marca fardex é Hilário Gama. “É complicado eu ir comprar a roupa. E sempre que preciso prefiro pedir à minha mãe, que sabe exactamente aquilo que eu gosto”.
Negócio complicado
O negócio de venda de fardo nem sempre corre bem. Há vezes que se adquirem balões de fardo com roupas sem qualidade ou já estragadas. Segundo soubemos, os balões de calçado e camisas são os que mais roupas estragadas trazem. Paula Cármen disse que o negócio do fardo é como outro qualquer. “Hoje ganhamos e amanhã perdemos. É tudo muito relativo”, disse a jovem comerciante.
Cármen disse que quando o balão está estragado não tem como devolver a roupa ao armazenista que lho vendeu. “É só complicado por isso, porque o armazenista não aceita devoluções, mesmo que eu abra o balão no mesmo dia em que o comprei”.
Author: Cristina da Silva
Fonte: jornal de Angola
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